Viver uma vida em que saiba desobstruir o caminho à beleza
que por mim se quer manifestar. Uma vida de celebração de tudo
o que sou, ou tudo o que sei ser; reconhecer, agradecer e partilhar.
Uma vida de aprendizagem – onde os desafios de cada dia possam
ser vividos com autenticidade, com inteireza, com honestidade.
Onde a escuridão e a luz sejam acolhidas, para expressarem forma
e movimento ao corpo que habito.
Que esta consciência me leve a manifestar saúde, beleza e inspiração,
colocando ao serviço o que continuamente sigo apreendendo.
Que possa nutrir os corpos que buscam esta expressão, e que seja convite
para que outros se atrevam juntar à experiência. Ou desejem criar
essa experiência nas suas próprias vidas.

Tendo atravessado desafios complexos e percorrido caminhos inusitados,
a tendência para permanecer sentindo a dureza da vida foi magnética.
Valorizar o desgaste como um reconhecimento de conquista pode
levar a um caminho de superação constante, limitando a capacidade
de regenerar, descansar, celebrar e criar.
Sobreviver ganha estatuto de ser herói, viver em
tranquila-plenitude aparenta erroneamente ser um
caminho de aborrecimento e apatia.
A minha história leva-me a recordar que a plenitude
que busco está em saber parar, parar a batalha interna da
(cada vez mais) difícil prova a superar, parar o ciclo vicioso
das multitarefas, dos movimentos malabares que criam e recriam
inacreditáveis soluções e adaptações.

A incapacidade de permanecer no sofá, relaxando na paixão
de dois corpos recém apaixonados, e sair correndo.
Jornadas mais-que-longas, responsabilidades intensas,
capacidades físicas puxadas em limite. A necessidade impetuosa de manter
eficiência dos membros, enumerando tarefas para realizar em simultâneo
com a aproximação ao deleite de um filme, uma música, uma conversa...

Uma história contada pelas verdades que o meu corpo expressa,
das escolhas que fiz em não nos permitir repousar.
Da 'díficil-de-apreender' sabedoria de permanecer na minha vontade,
na minha missão; e sucumbir ao legado de estar desmesuradamente
à mercê do outro, ou o externo.
Uma linha de tempo em que crescer aconteceu
a velocidade relâmpago, retalhando ausências, doenças,
presenças, invasões, lutos e rebeldias.
Despertar deste transe não ocorreu.
Foi acontecendo,
acontece, vai acontecendo.
Dançar até explodir com a noção da realidade conhecida.
Desnudar-me, expressar-me como sou,
como prática de descobrir ser aceite.

Permanecer na noite selvagem, em florestas desconhecidas,
desafiando os medos e incertezas – confiando na primordial
relação com a natureza. Mãe.
Estudar e experimentar as dimensões para além do palpável,
das capacidades super-naturais de sermos humanos.
Experimentar a rendição às medicinas ancestrais, ritualizadas.

Atravessar véus e regressar desejando desvendar o meu maior mistério:
Quem somos eu?
Como melhor expresso a autenticidade
de todas as mulheres que em mim habitam?
Celebrar é missão.
commemorare.. é o meu caminho.