cada sessão de fotos para mim é uma oportunidade de celebrar a vida e beleza de cada pessoa presente (a minha também :).
delicia-me especialmente trabalhar com a magia resultante de uma presença ''imperceptível'' e a intimidade declarada.
gosto de fazer o possível por me manter invisível ao que naturalmente ocorre, sem abdicar do campo de proximidade que a relação propõe.
algumas sessões pedem mais de
invisibilidade, outras mais de
intimidade.
gosto de me manter invisível para poder captar o que ocorre espontaneamente, sem o efeito ''sorriso para a câmara'', sem o efeito''encolhe a barriga para pareceres mais elegante'' ou ''estica o peito para ficares mais alto''.
e gosto de trabalhar a intimidade exactamente pela mesma razão, pelo que somos espontaneamente.
intimidade para mim é a crueza presente, sem querer parecer o que não é ou esconder o que é.
sou íntima comigo na relação da descoberta de quem sou, no processo de procura do que me motiva a escolher
a e não
b, a fazer
c e não
d, a aspirar
z e não
t, a querer
x e também
y.
ao te oferecer a minha intimidade, mostrando-me como sou, descubro-me: quem sou eu perante uma outra presença, quem sou eu perante a tua presença?
ao te oferecer a minha intimidade, conheço-te: quem escolhes tu ser perante a minha presença?
trabalhar com intimidade amplia-me as oportunidades e possibilidades de descobrir quem somos.
e para mim este é o caminho para encontrar a verdadeira beleza que todos carregamos.
a beleza da relação com a nossa realidade, com o nosso potencial presente - desejoso por ser reconhecido e infinitamente ampliado.
esta é a descoberta que me entusiasma nesta relação:
invisibilidade e
intimidade.
e talvez seja este o segredo da minha fotografia.
por ter o prazer de partilhar intimidade com pessoas muito diferentes, com visões da vida bem distintas e em contextos singulares, o trabalho fotográfico aqui exposto reflecte obrigatoriamente a relação que cada fotografado tem com a exposição da sua intimidade - com o que se sente confortável, nos determinados momentos ou contextos.
voto que o que aqui exponho possa servir de inspiração para um contágio pela autorização de sermos nós mesmos, sozinhos ou acompanhados, perto ou longe de uma câmara.
e uma ode que honra simultaneamente o gosto de declararmos sem reservas quem somos, onde estamos, como estamos, porque estamos... e o recato de nos reservarmos, de guardarmos como um tesouro escondido pérolas da nossa experiência.
esta é a intimidade que torno visível hoje: o meu entusiasmo por cultivar esta dinâmica de intimidade em tudo o que me passa pelas mãos, com todas as mãos que aperto, com todas as mãos que me tocam, que me acenam, que me abraçam, que me inspiram.
