Minha mamãe morreu. Desapareceu fisicamente, desapareceram as oportunidades partilharmos abraços, de criarmos juntas momentos em que celebramos a natureza desta relação tão íntima. E se desapareceu o seu corpo, que memórias e oportunidades se mantêm vivas em mim que me ajudam a celebrar o que dela não desaparece? A que aprendizagens, relações, emoções posso recorrer para celebrar quem me fez ser mulher? Na passada semana mamãe faria 74 anos. Fomos quatro as irmãs Marias que atravessamos os mil desafios horários para nos juntarmos. Nem que fosse para um só abraço: a possibilidade de estarmos fisicamente presente, de honrarmos o termos corpos, ampliarmos os sentidos que nos reconhecem. Valorizarmos as camadas de informação que nos atravessam. Sabermos, celularmente, que estamos aqui. Sabemos bem as quatro o que é não poder estar juntas. O que é não ter por perto, fisicamente, quem amamos. Sim, é possível viver docemente nesta ausência. Eu sinto que passa pela tranquilidade de aceitar que vivemos a intensidade de cada momento dando o melhor que sabemos, sendo quem melhor podemos ser. Agora, para mim que não tenho a escolha da presença com tantos dos que amo, quero seguir a aprendizagem de agradecer, celebrar e comemorar a possibilidade de ter este corpo-vida e, com ele, desfrutar de quem está, de quem quer estar. Criando novos momentos, honrando e criando novas memórias. Se podes, celebra o poder celebrar.     Esta era uma das orações que ela mais vezes partilhou comigo nos anos que antecederam a sua doença. Hoje a "aleatória" selecção de música escolheu que a escutasse como bom dia: http://youtu.be/_kBHI6892S0