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por mais voos que dê, de quando em quando urge-me a necessidade de regressar às raízes. não sei explicar onde elas estão, suponho que talvez nos abraços das gentes com quem cresci, na terra que acolhe os que me deram luz. ou quem sabe seja também um conceito de interioridade: permitimos-nos estar em contacto com as nossas raízes em resposta a estímulos que determinadas relações nos inspiram - relações com locais, gentes, emoções, estados de espírito. uma curta viagem rumo ao norte permitiu-me desfrutar de re-ligações das quais sentia saudades, em tempo em que as folhas dançam também o seu movimento até à terra. visitar locais cheios de memórias, caminhos, pedras, edifícios que me falam em dialectos que só eu posso decifrar. que falam a cada um que por eles passa se estivermos dispostos a escuta-los. oiço tocar os sinos da igreja, abrem-se portas de capelas privadas, corações e pedras serpenteiam o caminho, sou acolhida em casa onde bate a chuva nos vidros, se assam castanhas, partilha-se à mesa conversas que se prolongam, e mimos que se arrastam. e sinto também a minha realidade de sentir que casa é, para lá de um espaço geográfico, onde nos permitimos aterrar inteiros, habitando-nos. onde deixamos cair máscaras e papéis - há abraços que são casa, músicas, cheiros, espaços, estradas, tendas, bancos de jardim. habitar-me com esta presença traz-me a possibilidade de dar e receber mais, e de reconhecer o que cada um destes espaços me traz, o que me faz sentir e como me inspira: casa-raíz, casa-voo, casa-semente, casa-tronco, casa-ninho, casa-voo, casa-trampolim, … as raízes das palavras também me intrigam. fazer casa, assim em inteireza, é possível em tantos momentos: casar. como diz o querido emídio, casamento há só um: é comigo. e desta relação de inteireza posso construir relações mais inteiras com outros, ir criando casas; ir-mos-nos casando. sou poli-casada. uau. que luxo.